7 de outubro de 2011 às 9:21
por Greg Palast, Truthout
O magnata dos fundos hedge Paul Singer gosta de comer carcaças em decomposição no café da manhã. O que ele mastiga e engole é de embrulhar o estômago, mas os convivas dele também provocam enjoo: os bilionários Ken Langone e os irmãos Koch, Charles e David.
Singer convocou reunião do clube dos meninos bilionários com o propósito de escolher o próximo presidente para nós. O estilo antigo de escolher presidentes – democracia, contagem de votos e tudo isso – nunca foi o favorito dessa turma. Posso falar isso com base nas minhas investigações sobre cada um destes cavalheiros para o The Guardian. Quando a Estátua da Liberdade tem pesadelos, ela sonha que esses caras vão se juntar para tomar a América através de um golpe de estado via dinheiro.
Benvindos ao pesadelo. Singer, Langone e os Koch decidiram, no mês passado, eleger Chris Christie para nós. A pseudo-campanha do governador de Nova Jersey naufragou antes de decolar. Mas isso não importa. Agora que a Suprema Corte efetivamente acabou com os limites de financiamento de campanhas e permitiu contribuições secretas através das corporações, essa nova combinação de ultra ricos não deve ser vista como apenas como uma ameaça aos Democratas e sim à Democracia.
Deixe-me apresentar uma lista dos arquivos que cheiram a enxofre desse homens que querem dar as cartas.
Bilionário 1: Ken Langone
Langone gosta de ser identificado como o fundador do Home Depot, um sujeito simples, de avental azul levando uma sacola de parafusos.
Mas ele também foi o homem, com seus colegas da extrema direita, por trás da Database Technologies (DBT). Foi na minha primeira investigação sobre o Langone, em 2000, que descobri que a DBT tinha criado uma lista de vários milhares de “criminosos” – quase todos negros, todos inocentes, todos eliminados das listas de eleitores da Flórida pela cliente da DBT, Katherine Harris. E a empresa do Langone sabia exatamente o que estava acontecendo.
O que qualifica o Langone para escolher nosso presidente? Nas palavres dele mesmo: “Eu sou doido, eu sou rico”.
Bilionários 2 e 3: David e Charles Koch
Você acha que já leu tudo sobre os irmãos bilionários. Bem, aqui vai mais:
Em 1996, Richard Elroy, agente do FBI, disse àminha equipe que petróleo havia sido roubado da reserva indígena Osage, em Oklahoma. Ele e outro homem filmaram o furto, segundo testemunhas pessoalmente encomendado por Charles Koch. Uns barris aqui, uns barris ali.
E foram somando: cerca de um bilhão e meio de barris de petróleo roubado, diz um especialista, um terço da fortuna dos Koch naquela época. David e Charles dividiram o produto do furto através da empresa privada deles, a Koch industries.
Bilionário 4: Paul Singer
Agora chegamos ao rei da carcaça, Paul Singer, conhecido como Singer O Urubu. Não fui eu que o apelidei. O nome Urubu foi dado a eles pelo primeiro ministro britânico e pelo Banco Mundial. Recentemente, o ex-enviado das Nações Unidas Winston Tubman sugeriu que eu perguntasse ao Singer ou aos sócios deles, “Você sabe que está provocando a morte de bebês?”
O que esse cara faz, bota veneno no leite das crianças? Pior: ele retira o leite.
O modus operandi do Singer é encontrar pequenas dívidas de nações pobres esquecidas (Peru e Congo estavam no cardápio dele). Ele espera os contribuintes dos Estados Unidos e da Europa perdoarem a dívida da nação pobre, depois espera um pouco mais pelas ofertas de ajuda em alimentos, medicamentos e empréstimos para investimentos. Aí Singer ataca. Legalmente, toma todos os recursos e todo o dinheiro que estava indo para o país em desespero. As trocas comerciais param, os fundos ficam congelados e toda a economia efetivamente se torna refém.
Singer, então, exige das nações que estão oferecendo ajuda que paguem regates monstruosos para permitir que as trocas comerciais recomecem. No programa Newsnight da TV BBC nós descobrimos que Singer exigiu 400 milhões de dólares do Congo por conta de uma dívida que ele comprou por 10 milhões de dólares. Se ele não recebe seus 4.000% de lucro, ele pode efetivamente matar a nação de fome. E eu não digo isso figurativamente – digo matar de fome, sem comida. No Congo-Brazzaville, no ano passado, um quarto de todas as mortes de crianças com menos de cinco anos de idade foram provocadas por má nutrição.
Para a BBC, tentei fazer ao Urubu Singer a pergunta do diplomata sobre a matança de bebês, mas não pude ir além de George Gershwin. (Na torre de Nova York que abriga o poleiro do bilionário, um sósia de Gershwin, de fraque e cartola, toca canções em um piano de calda para a entrada triunfal de Singer).
E não são apenas pobres carcaças africanas. Durante as investigações para o meu livro “Vulture’s Picnic” (em português seria piquenique do urubu), descobri que o primeiro grande ataque de urubu do Singer foi às vítimas americanas de amianto.
Pano de fundo: Os executivos de três empresas – a operadora de minas WR Grace, a construtora de chapas para revestimento de paredes USG e a empresa de materiais de construção Owens Corning – sabiam que a exposição ao amianto em suas operações estava matando os trabalhadores. Quando foram pegas e processadas, as empresas entraram com pedido de falência e concordaram em dar quase toda a receita bruta das operações às pessoas que estavam morrendo ou que ficaram doentes por causa do amianto.
Mas o Singer teve uma ideia melhor. Essas empresas, como você pode imaginar, valiam quase nada e o Singer comprou a Owens Corning por uns trocados.
Se ele pudesse reduzir o montante pago às vítimas, Singer poderia aumentar muito o valor da Corning. Então, começou a campanha de relações públicas, atacando os trabalhadores que estavam morrendo, dizendo que todos estavam fingindo.
Um dos atacantes era um cara chamado George W. Bush.
Em Janeiro de 2005, o presidente organizou um encontro televisionado para promover um “especialista” que declarou que mais de meio milhão de trabalhadores que processavam a indústria do Singer eram mentirosos. Se os trabalhadores não podiam respirar, ele disse ao presidente, não era culpa do amianto.
O “especialista” não era um médico mas, notavelmente, sua “pesquisa” foi em parte financiada por… Paul Singer. Como Bush também foi. Depois da morte de Ken Lay, da Enron, Singer e seu bando de urubus do fundo hedge Elliot International se tornaram os maiores contribuintes do Comitê Nacional Republicano. É difícil medir com precisão sua generosidade porque parte desta ajuda chega por portas laterais. Por exemplo, Singer colocou dinheiro na campanha difamatória do Swift Boat, contra o adversário de Bush, John Kerry. (Nota do Viomundo: o anúncio, na televisão, distorcia a atuação de Kerry na guerra do Vietnã).
O ataque legal, político e de relações públicos aos trabalhadores a beira da morte reduziu as compensações que seriam pagas pelas empresas de amianto, aumentando seu valor. Singer então revendeu a Corning com o belo lucro de um bilhão de dólares.
É legal. É brilhante. É doente. É Singer.
Um dos meus gols favoritos do Singer foi a trama bem sucedida para legalmente roubar o Tesouro do Peru. Um dos advogados americanos do país me disse, de boca aberta, como o Singer deixou o velhaco presidente do Peru, Alberto Fujimori, fugir do país para escapar de acusações de assassinato. Singer tomou o avião de Fujimori. E o urubu deu seu preço: um dos últimos atos de Fujimori como presidente antes de fugir foi fazer com que sua pobre nação pagasse 58 milhões de dólares ao Singer.
Por que os bilionários precisam comprar a Casa Branca
Um executivo da Koch Industries (ele não sabia que estava sendo gravado) disse que perguntou a Charles Koch, que já tinha um bilhão de dólares de herança, porque Koch estava usurpando alguns dólares, por semana, dos índios americanos. Koch disse a ele: “eu quero a minha justa parte, e é tudo isso”.
Tudo isso, claro, inclui a Casa Branca.
Colocar Bush na Casa Branca valeu ouro para esses cavalheiros – mais, na verdade. E agora, os Koch, Singer e Langone se juntaram para escolher um candidato que, rezam, possa tomar de volta o imóvel 1600 da Avenida Pensilvânia.
Langone
A lista de “criminosos” da empresa DBT, do Langone, incluía apenas pessoas inocentes por isso, certamente, você não encontraria ali o nome do Langone. Em 2004, o Procurador Geral de Nova York, Eliot Spitzer, apresentou acusação formal contra o Langone de conspiração, acusando o bilionário de subverter as investigações de reguladores da bolsa de valores sobre negócios suspeitos do banco de investimentos do Langone.
Um detalhe técnico encerrou a ação civil de conspiração.
Mas agora, a reforma bancária e de ações do Obama, apesar de fraca, dá aos reguladores novos poderes para manter um olho independente sobre as travessuras no mercado de ações. Para Langone, escolher o presidente significa cerrar o olho regulador.
Os Koch
Elroy, o homem do FBI, disse aos nossos investigadores que o Departamento de Justiça iria permitir que o FBI algemasse Charles Koch por conta da acusação de roubo do petróleo dos índios Osage. Porém, diz Elroy furioso, os amigos bem financiados pelos Koch, na época senadores Bob Dole e Don Nickles, entraram em cena – e Koch saiu livre. Sem acusação.
Dennis DeConcini, senador do Arizona na época, quis saber por que acusações civis ou criminais nunca foram apresentadas contra os Koch. Essa não era uma pergunta muito sábia. O senador me disse que os Koch apeaçaram destruí-lo politicamente no comitê do Congresso que ele presidia se ele fosse adiante com as investigações a respeito do roubo do petróleo dos indígenas. Ele continuou, mas sua carreira política não.
Durante o governo Clinton, as indústrias dos Koch foram acusadas criminalmente por violarem a Lei da Água Limpa. Sob o presidente Bush, as acusações, mas não a água, foram lavadas.
Em outras palavras, o crime paga bem – se você escolher quem vai ser o xerife.
Paul Singer
Paul Singer apostou pesado na indústria de amianto e depois foi arrumar o cassino, ajudando a instalar Bush na Casa Branca. Ou seja, ele tinha um presidente disposto a bater nos trabalhadores de amianto e apoiar a chamada “reforma ilícita” que solapou as alegações das vítimas. O que as vítimas perderam, Singer ganhou.
Mas existem problemas no horizonte para Singer. Em 2007, o governo Britânico proibiu Singer e todos os especuladores-urubus de dívidas do Terceiro Mundo de coletarem suas libras de carne no Reino Unido. Outras nações europeias estão seguindo o mesmo caminho.
Vários congressistas americanos estão brigando por uma proibição ao estilo britânico das atividades do Singer. (Até mesmo a Corporação Chevron está reclamando dos ataques dos urubus. Quando a Chevron chama banqueiros de inescrupulosos, eles devem ser realmente muito inescrupulosos). Sem uma caneta de veto sobre o Congresso, Singer pode perder centenas de milhões de dólares.
Singer está jogando na defesa, mas é melhor no ataque: para coletar contra a Argentina, seus lobistas conseguiram aprovar no congresso uma lei que estrangulava as trocas comerciais com a nação da América do Sul. Obama e a Secretária Hillary Clinton bloquearam esse ato louco contra nosso aliado. Como resultado Singer não é um gaúcho contente. Vai haver sangue. Obama terá que pagar.
Todos eles
Existe uma coisa que todo bilionário quer: outro bilhão. E isso está ameaçado pelos planos do Obama de taxar os lucros hoje isentos.
Caras como Singer e Langone não pagam impostos como eu e você. Enquanto pagamos impostos sobre salários, os lucros de especulações tipo urubu e arbitragem são via de regra declaradas como “carried interest”, efetivamente não são taxados. É um benefício de um bilhão de dólares para os bilionários, e todos os candidatos republicanos juraram manter essa brecha na legislação aberta e garantir que eu e você paguemos os impostos para o Singer.
Infelizmente, para Singer, os Koch e Langone, os candidatos republicanos que estão beijando a bunda dos bilionários não parecem ser elegíveis.
Então, o Clube dos Meninos Bilionários instigou o Governador Christie, o bully de Jersey, a usar os músculos para entrar no Escritório Oval. Christi não decolou, o que não foi surpresa. Mas se eles vão escolher o candidato republicano ou recuar para a tática de difamar nos bastidores, uma frágil coisa chamada democracia tem poucas chances contra o poder de tsunami dos talões de cheques somados do quarteto.
As reportagens investigativas de Greg Palast são veiculadas no programa Newsnight da BBC. O livro dele, “Vulture’s Picnic: in Pursuit of Petroleum Pigs, Power Pirates, and High-Fincance Carnivores” será lançado pela Penguin USA no dia 14 de Novembro de 2011.
Tradução: Heloisa Villela